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O futuro do pretérito

Nós vamos falar do futuro do pretérito, ou melhor, falaríamos. Apesar do nome, esse artigo não se refere a um fato que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação passada (como diz a norma gramatical), mas, sim, sobre coisas do passado que acontecerão após a situação presente (a pandemia). Quando o futuro é incerto olhar para o passado, ajuda a nortear estratégias e a dar forças para elaborá-las.

O mundo vive constantemente passando por inúmeros problemas coletivos que afetam todo o globo de uma só vez e, mesmo que não pareça, sempre conseguimos superá-los. O momento atual pode servir para empreendedores terem calma ao fazerem seus planejamentos. Enquanto todos querem saber a nova tendência que guiará os negócios no novo normal, não podemos nos esquecer que às vezes para seguirmos à frente é necessário parar e olhar para trás.

Pensando nisso, separamos algumas tendências do passado que podem ajudar na operação de alguns setores no pós-quarentena.

A cultura e o drive in:

Os cinemas drive in pareciam uma memória nostálgica de tempos que não voltam mais. Porém, eles podem estar a ponto de fazer um relançamento “campeão de bilheteria”.  Esse modelo de “estacionamento cultural” passou a ser visto como uma aposta para o setor do entretenimento para os momentos, o pós-COVID-19. Neste formato, o público fica protegido dentro do próprio veículo e há distanciamento social entre os espectadores (entre si) e o espetáculo (para os casos de apresentações ao vivo).

Hoje, o avanço tecnológico proporciona a solução para um dos principais problemas do antigo drive in: o som. Com a popularização das caixas de som sem fio, cada carro pode contar com o seu speaker já configurado para acústica do veículo. Lembrando que é essencial a higienização correta desses equipamentos que serão compartilhados. Falando de objetos de uso coletivo podemos ter visto o renascimento e morte prematura do Cinema 3D e seus óculos. Se o cinema pós-Avatar modernizou e (re)popularizou os óculos especiais que tornavam possível a experiência de películas em três dimensões, agora, compartilhar qualquer objeto que entre em contato com o rosto não é, nem será aceito pelo público (pelo menos no curto prazo). Esse formato que ficou popular nos filmes dos últimos anos deverá voltar para o passado por hora.

Os teatros, para funcionarem nesse formato, precisarão cada vez mais utilizar ferramentas dos shows de música, principalmente telões e equipamento de som. O “teatro raiz”, que acontecia em espaço pequenos, lotados, com muita interação entre público e atores, precisará rever seu roteiro e estrutura se quiser abraçar esse novo momento.

Drive thru de todas as coisas:

O Drive thru se popularizou no Brasil na década de 90. Desde então, ele era restrito aos fast- foods. Todavia, esse modelo tem tudo para funcionar para todo o setor varejista. Lojas de diferentes segmentos, restaurantes, farmácias, mercados, shoppings, são só alguns exemplos de empresas que devem encontrar no drive thru uma solução de curto prazo para manutenção do seu operacional.

O brasileiro não tem ainda o costume de fazer compras e ir retirá-las. No exterior é comum esse modelo de loja que possuem poucos, ou nenhum produto disponível fisicamente. Para comprar nelas o cliente precisa fazer um pedido on-line e ir retirar esse pedido em uma dessas lojas. Elas funcionam como um grande centro de distribuição dos seus produtos. Não possuem mostruário, nem provador. O cliente faz o pedido (normalmente por um catálogo físico ou digital) e é avisado quando o produto estará disponível na loja mais perto dele, onde ele vai apenas para retirá-lo.

A morte do buffet, o renascimento do “grab and go(“pegar e sair”, em tradução livre).

Existem modelos que funcionam no mundo todo e não funcionam no Brasil, e existem coisas que só funcionam por aqui, como o parcelamento, por exemplo. Quem precisava almoçar nos grandes centros urbanos brasileiros encontrava uma enorme variedade de restaurantes com um buffet comunitário. Como o vírus é algo que se espalha pelo ar, não há como sustentar um modelo de self-service, já que muitas mãos pegam os mesmos talheres, muitas pessoas respiram em cima de uma comida que pode ser compartilhada por dezenas de pessoas. Ou seja, a tendência é que o tempo seja implacável com os buffets.

Mas, calma! O setor gastronômico já encontrou alternativas, como o delivery, e o já citado drive thru, porém, ainda há um modelo do passado que pode ressurgir nesse momento: o grab and go. Muito comum nos Estados Unidos e na Europa, mercados e restaurantes disponibilizam um ponto de venda específico para os pratos que têm mais saída, ou produtos que possuem um bom período de armazenamento, onde os consumidores entram, escolhem o que querem, pagam e vão embora consumir essa comida do lado de fora do restaurante. Até pouco tempo, aqui no Brasil essa ideia encontrava resistência dos consumidores mais tradicionais que preferem fazer suas refeições com calma, sentados dentro do estabelecimento.

A grande sacada do grab and go é disponibilizar uma vasta variedade de produtos de forma prática para o consumidor final. Os clientes ganham: agilidade (o cliente entra, escolhe e paga, sem a necessidade de esperar o pedido ficar pronto), praticidade (as embalagens são pensadas para o cliente consumir o produto em qualquer lugar, a qualquer momento, inclusive andando), variedade (qualquer tipo de refeição pode ser disponibilizado neste modelo, do sushi à sopa) e oportunidade (o consumidor leva para casa para consumir quando quiser o seu prato favorito do seu restaurante favorito, na porção que quiser e na hora que quiser, principalmente no caso dos congelados).

Já os restaurantes têm como vantagens: flexibilidade (reposição mediantes à demanda, sem estoque, sem desperdício), congelamento (adicionar mais uma opção entre o seu mix tradicional de produtos), aumento do faturamento (aumentar o ticket médio do cliente com uma nova frente de escoamento de produtos) e mão de obra reduzida (não é necessária uma equipe robusta para o horários de pico, já que os produtos, apesar de frescos, podem ser produzidos com certa antecedência).

O fortalecimento do velho e das nossas raízes.

Já falamos aqui no blog sobre: A volta do Retrô.  Essa tendência deve ganhar força nos próximos meses com as incertezas do mercado. A volatilidade do mercado dos produtos novos, atrelado à alta de moedas estrangeiras, devem limitar ainda mais o poder de compra da sociedade. Paralelo a isso, estamos acompanhando uma queda do preço dos produtos usados, principalmente no setor automotivo e de linha branca. Se a reciclagem e reutilização era a tendência forte do início do século, essa força deve se acentuar ainda mais. O aumento do preço dos importados, causado pela força das moedas estrangeiras, que tendem a ficar em alta quando há uma instabilidade como a que vivemos no momento, dará maior competitividade aos produtos e insumos nacionais.

O humano adapta seus desejos.

Jorge Forbes, um psiquiatra brasileiro, resumiu em pensamento as nuances relativas à nossa espécie em momentos adversos como o que vivemos. “A espécie humana é capaz de se adaptar a diversas realidades e superar dificuldades e, diferente de outros seres vivos que se removidos de seu ambiente natural têm como destino a morte, nós somos capazes de viver e prosperar em lugares que você nem imagina”. Apesar da mudança de cenários, conseguiremos manter a nossa sociedade e seus setores econômicos ativos.

Além disso, vale pontuar que o desejo também é adaptável. A gente só deseja aquilo que sabe que existe, por isso, o passado nos ajuda a nortear esse novo futuro. Se antigamente ter uma máquina de lavar louças em casa era luxo, agora, o status será de quem comprar primeiro a sua máquina de lavar compras que chegam da rua.

Entenderíamos isso antes disso tudo? Só o futuro do futuro dirá.

 

 

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